DOM
QUE NOS LEVA À COMUNHÃO
“Eu
sou o pão vivo descido do céu. Quem comer deste pão viverá eternamente. E o pão
que eu darei é a minha carne dada para a vida do mundo”. Após a multiplicação
dos pães, Jesus profere este discurso sobre o pão da vida. Pão descido do céu,
enviado do Pai, para dar vida ao mundo. É o alimento que dá a verdadeira vida
aos que dele tomam. Ao escutarmos essas palavras de Jesus, naturalmente somos
levados a pensar na presença do mesmo no Sacramento da Eucaristia. Descer do
céu, ao ser enviado por Deus, para dar vida ao mundo, também nos conduz ao
convite que a Eucaristia nos faz. Ao
recebermos o Corpo e Sangue de Cristo na Eucaristia, descobrimos por este alimento
verdadeiro, que a vida plena tem sentido quando ela é doada para gerar vida. O
dom que recebemos de Deus transforma-se em dom aos outros. Não existe vivência
da Eucaristia que nos leve ao isolamento. Toda Eucaristia nos impulsiona aos
outros, à doação, a fazer com que o mundo encha-se de vida. Pela Eucaristia,
aprendemos constantemente que a verdadeira vida, a vida plena de sentido, é a
vida que se reconhece como dom e por isso, se doa. Este é o alimento
verdadeiro, pois muitos outros alimentos nos são apresentados pelas estradas da
vida.
Moisés,
nos apresenta, na primeira leitura, os quarenta anos do povo no deserto como
tempo de descobrir a caminhada da vida como dom de Deus. Por duas vezes, ele
convida o povo a fazer memória e não esquecer este tempo. Tempo de humilhação,
de necessidades, mas também de descobertas sobre o que ter de fato no coração,
como essencial na vida. A caminhada no deserto conduz à vida pela liberdade,
pois o tempo de escravidão no Egito deixou resquícios no coração do povo que
poderiam atrapalhar a implantação do projeto de Deus na terra da promissão. O Senhor nunca deixa de nos conduzir, mas
sua pedagogia nos leva ao amadurecimento e fortalecimento na fé. Na falta,
na necessidade, descobrimos o essencial da caminhada e este essencial passa
pela compreensão da vida como um dom, pois o Senhor os alimentou “com o maná
que nem tu nem teus pais conhecíeis, para te mostrar que nem só de pão vive o
homem, mas de toda palavra que sai da boca do Senhor”. Não é a necessidade em
si que nos faz descobrir o verdadeiro sentido da vida, mas quando descobrimos
nestes momentos o quanto a graça de Deus nos auxilia, pois “Foi ele que fez
jorrar água para ti da pedra duríssima e te alimentou no deserto com maná, que
teus pais não conheciam”. O Senhor nos liberta, nos conduz, nos sustenta, no
memorial da Eucaristia atualizamos sempre esta certeza.
O
canto do salmista, nos leva à dimensão de ação de graças da vida. Toda a vida é
um dom, e o que celebramos na Eucaristia é a vida de Deus em nossas vidas, em
nosso caminhar. O salmista convida ao louvor pela paz, pela benção, pela
segurança, pelo cuidado, e acima de tudo pela instrução proveniente da palavra
e preceitos. Quais os louvores
apresentados a Deus, quando com ele nos encontramos na Eucaristia? Pelas
palavras do salmo, vislumbramos um olhar capaz de ver toda a realidade como
sacramento da bondade de Deus. Este também é um dos dons que recebemos por meio
da presença real na Eucaristia: por meio da Ação de Graça, ver o mundo e a vida
como uma graça. Isto por que, ninguém que se sente agraciado, fecha-se em si
mesmo. O reconhecimento de um dom recebido leva-nos a doação do que somos.
Celebrar
a vida como dom, conduz-nos naturalmente a compreensão da vida como comunhão.
Comunhão com Jesus, em seu pão partilhado e cálice abençoado, e com os irmãos e
irmãs. Por meio desta comunhão, compreendemos melhor o sentido de nosso ser
igreja. “A Eucaristia nos faz igreja” é o tema proposta este ano para a Solenidade
do Corpo e Sangue de Cristo por nossa Arquidiocese. Pois como vimos nos Textos Sagrados,
o reconhecimento do dom recebido não nos leva ao isolamento, mas à comunhão, à
partilha da vida e dos dons e assim formamos a igreja. O dom que nos leva à comunhão!
Que
as palavras do Santo Evangelho nos guarde para a vida eterna. Assim seja.
Fraternalmente,
Padre
Everaldo Santos Araújo - Pároco da Paróquia Santa Terezinha
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