SEXTA-FEIRA
DA PAIXÃO DO SENHOR
Não
cabe para o dia de hoje uma grande reflexão. As leituras, gestos e cantos da Liturgia
de hoje falam por si mesmo. Toda a Igreja hoje, reunida em oração, coloca-se
vigilante e silenciosamente diante da Cruz de nosso Redentor. E este não é um
silêncio inativo, pois ele fala e transforma, apenas as palavras são trocadas
pela contemplação, pois neste dia tentaram calar a Palavra Encarnada com a
morte. É momento de fazer memória de suas dores e sofrimentos na cruz para que
assim, unidos a Ele, aprendamos a completar com a nossa vida e sofrimentos o
que falta à sua Paixão. Não querendo dizer assim que a sua Paixão não tenha
sido realizada de um modo pleno, pois Jesus nos amou e amou-nos até o fim;
completamos a sua Paixão quando, unidos a Ele pela entrega de nossas vidas,
mostramos ao mundo que a vida tem a última palavra diante da morte.
Deste
modo, mergulhados num profundo “silêncio de esperança”, abramos o coração para
dois grandes pilares que a liturgia da paixão nos apresenta como sustentáculo
na construção do projeto de Deus para toda humanidade: a obediência e a
confiança. O servo sofredor e obediente do Capítulo 52 do Profeta Isaías é
descrito como alguém macerado pelo sofrimento; tão marcado pelas dores que
desperta desprezo nos outros. Aos olhos humanos é visto como alguém maldito,
desprezado pelo próprio Deus. Mas, no entanto, estava cumprindo com êxito em
sua vida, a vontade do Senhor. Não abre a boca, é obediente! Como Jesus,
descrito na carta aos Hebreus, aprendeu a obedecer pelo sofrimento. O servo e a
serva obediente à vontade de Deus, mesmo em meio às provações e sofrimentos,
tornam-se canais de benção, cura e paz aos atribulados... Toda abertura à
vontade de Deus é eficaz!
A
obediência provém da confiança, não podemos falar de uma sem ter que fazer
referência à outra. E compreender o significado mais profundo do que é a
confiança, basta lermos em sua totalidade o salmo 30(31). Diante de tanto
desprezo, não somente dos inimigos, mas também dos amigos e vizinhos, o
salmista canta sua confiança no Senhor. Adorar na celebração de hoje o madeiro
da Santa Cruz é contemplar o significado pleno da obediência e da confiança.
A
cruz vivenciada a partir da obediência e confiança em Deus torna-se frutuosa.
Ela é como a fruta que é macerada para ter produzir um suco refrescante e
saboroso. É capaz de transformar o jardim da traição em jardim da esperança, de
onde vai brotar a vida. Nossa vida sem esses dois pilares perde o seu
verdadeiro sentido. Jesus se faz obediente porque confia, tem consciência de
tudo o que ia acontecer, por isso não faz uso da espada. Tem certeza que só o
amor é capaz de vencer a dor da entrega.
Fraternalmente,
Padre Everaldo
Santos Araújo
Pároco da Paróquia
Santa Terezinha
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