Neste tempo pascal, e durante toda a
nossa vida, somos chamados a viver tudo na vida à luz do grande mistério da fé
- a paixão, morte e ressurreição de Jesus. Sempre quando
somos atormentados por grandes sofrimentos em nossa caminhada existencial, nos
sentimos sempre tentados a separar estas realidades: de um lado a vida e de
outro, a realidade. Fazemos, portanto, algo bem parecido com o que fizeram os
dois discípulos de Emaús. Andavam tão desanimados, tão cegos, que só conseguiam
ver as palavras e ações de Jesus, como algo relegado ao passado. Foi um grande profeta, mas a morte o calou!
Eles esperavam, mas já faz três dias e quando chega ao terceiro dia, não há
mais o que se possa esperar.
Jesus
se põe a caminho com eles e, com todos nós, para curar esta cegueira sempre
permanente, que nos impede de reconhecer sua presença pelo caminho. Neste
domingo, à luz do mistério pascal, celebraremos a graça de um novo olhar frente
as mais variadas situações da vida. Um olhar já diferenciado nas palavras de
Pedro, no dia de pentecostes, em Jerusalém. O mesmo reconhece em Jesus alguém
aprovado por Deus, em milagres, prodígios e sinais, mas não somente como feitos
do passado, mas a partir de um projeto de Deus determinado de acordo com a sua
vontade. Assim vai dizer: “Deus, em seu desígnio e previsão, determinou que
Jesus fosse entregue pelas mãos dos ímpios, e vós o matastes, pregando-o numa
cruz.” (Atos 2,23). O passado, deste modo, não é visto como um fracasso, mas
como realização dos desígnios de Deus, para manifestar que a morte não tem
poder para dominar a vida.
A
cegueira dos discípulos os impedia de reconhecer a presença de Jesus na
caminhada, como também nos impede de reconhecer os sinais que hoje, nos falam
de sua presença. Tantos foram os anunciadores da ressurreição, dentre eles as
mais destacadas, as mulheres, que foram aos discípulos comunicar o que tinham
visto; e eles simplesmente não acreditaram; a dor ainda falava mais forte.
Anunciadores e anjos, não foram capazes de leva-los à crença. A vida
transformada em Cristo que abraçamos e vivemos como graça é um sinal da ação de
Deus na caminhada de muitos. Quando somos capazes de abandonar uma vida fútil e
reconhecer o resgate que Deus fez de nós, pelo sangue de seu filho, nos
tornamos também testemunhas da ressurreição.
Alimentar
em nós este olhar é uma das graças que esperamos colher deste tempo pascal.
Pois ele nasce da certeza de que fora de Deus não poderemos alcançar a
verdadeira felicidade; até mesmo quando estamos vivendo tempos de tribulação,
até porque nada escapa ao seu olhar. É a fé que nos faz cantar como o salmista
quando diz: “Pois não haveis de me deixar entregue à morte, nem vosso amigo
conhecer a corrupção.” (Salmo 15/16). E os grandes anunciadores que o mundo de
hoje precisa, são daqueles que trazem no coração a verdadeira felicidade que
emana de Deus; pessoas que comunicam ao mundo o sentido da verdadeira festa,
pois descobriram em Deus uma felicidade que nada pode destruir.
Pode
ser que muitos de nós estejamos desanimados e caminhando por caminhos que
desvirtuem os traçados por Jesus; não mais a caminho de Jerusalém, mas indo
para outro lado, Emaus. O peso da cruz nos faz agir assim! Nem mesmo a força de
suas palavras ou sinais, é capaz de nos fazer enxerga-lo em nosso lado, durante
a caminhada. Mas quando ao redor da mesa, Ele nos faz compreender o verdadeiro
sentido das Escrituras e recobrar em nós a força e a coragem de voltar à
Jerusalém, descobrimos que não estamos sozinhos. O Senhor caminha ao nosso
lado! Em Jerusalém os nossos irmãos estão reunidos e foi para lá que durante
todo o evangelho Jesus caminhou. Traçou um verdadeiro roteiro da entrega por
amor. Não deixemos que a dor e o desânimo desvirtuem o caminho traçado a nós
por nosso Senhor. A cada Eucaristia, Jesus nos ajuda a retomar este caminho.
Fraternalmente,
Padre
Everaldo Santos Araújo
Pároco
da Paróquia Santa Terezinha
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