“TENHAMOS
UM OLHAR DE RESSUSCITADOS!”
Neste
quinto domingo da páscoa, lemos em nossas celebrações, doze versículos do
capítulo catorze do evangelista João. É o grande discurso de despedida
proferido por Jesus, durante a última ceia. “Antes da festa da páscoa, sabendo
Jesus que tinha chegado a sua hora, hora de passar deste mundo para o Pai,
tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim. Foi durante a
ceia.” (João 13,1) Ao escutar este discurso, os discípulos ficam perturbados,
como também ficamos quando percebemos a proximidade da cruz. Certamente, eles
ainda não haviam compreendido profundamente o sentido do “amar até o fim” dito
por Jesus no início daquela ceia. Na verdade, a ceia e o lava-pés, apontam
claramente em seus gestos e sinais para a entrega amorosa do mestre. O medo
paralisa os discípulos de modo que não conseguem perceber o sentido de tudo:
estão cheios de dúvidas e perguntam insistentemente, como se nada do que Jesus
tenha feito tivesse algum sentido.
Mas
como sempre, Jesus consegue aproveitar desses momentos para levar os discípulos
a um maior amadurecimento na fé. Diante das dúvidas e perturbações, serão
conduzidos a uma confiança incondicional ao Pai e ao Filho; só deste modo serão
capazes de produzir frutos verdadeiros que permaneçam para sempre. Enquanto só
conseguem ver inquietação, Jesus vê ocasião para um maior amadurecimento na fé
e na produção de obras maiores. Precisamos sempre redescobrir a grandeza de um
novo olhar! Somente a partir dele seremos capazes de transformar o mundo, como
“testemunhas da ressurreição”.
E
quem nos concede a graça desse olhar transformador é o Espírito Santo; foi por
ele que os apóstolos se deixaram conduzir diante da queixa suscitada entre os
de origem hebraica e os de origem grega. Mesmo crescendo a comunidade, ela não
está imune aos desafios naturais de seu crescimento. Quando enfrentamos os
acontecimentos, principalmente os adversos, com olhar de quem se deixa guiar
pelo Espírito de Deus, os desafios transformam-se em oportunidade de
crescimento. Dirão os apóstolos os apóstolos diante da queixa de que as viúvas
gregas estavam sendo deixadas de lado: “Não está certo que nós deixemos a
pregação da palavra de Deus para servir às mesas.” (Atos 6,2) A Palavra é tão
importante quanto o serviço; costumeiramente costumamos separar as duas coisas,
ou até mesmo contrapô-las. Palavra sem serviço é ineficaz, serviço sem a
palavra perde o sentido!
Frente
o primeiro impasse da comunidade que crescia grandemente, os apóstolos, guiados
pelo Espírito de Deus, souberam discerni-lo com olhos divinos. Poderiam ter
desanimados e fraquejado, mas não, fizeram surgir ministérios que enriqueceram
a vida da comunidade. Como temos nos comportado, diante dos desafios
encontrados no seio da comunidade? Os enfrentamos com um olhar transcendente,
ou de um modo puramente humano. Precisamos nunca esquecer que a obra é de Deus
e não um trabalho puramente social e humano. A ação do Espírito tem uma força
eficaz que vai além de nossas forças; em meio a estes desafios, o autor sagrado
realça: “Entretanto, a palavra do Senhor se espalhava”. (Atos 6,7)
Os
que esperam e confiam no amor de Deus, costumam ter um olhar diferenciado e que
faz a diferença, como hoje nos diz o salmista (Cf. Salmo 32). Enquanto todos veem as coisas e acontecimentos
de um modo superficial, ele consegue ver em tudo, em todos os acontecimentos, a
ação de Deus, “Deus ama o direito e a justiça, transborda em toda a terra a sua
graça”. A nossa esperança está somente no Senhor e é por meio dela que
conseguimos compreender a vida como um sacramento de Deus.
Sejamos,
portanto queridos irmãos e irmãs, a partir de uma confiança incondicional a
Deus, pedras vivas, que sirvam de suporte aos enfraquecidos e desanimados. “Eis
que ponho em Sião uma pedra angular, escolhida e magnífica; quem nela confiar
não será confundida”. (I Pedro 2,6). Confiantes e fortalecidos na “pedra viva”,
sejamos “pedras vivas”! Não tem sentido a vida de um cristão, quando este em
vez de pedra de edificação, torna-se pedra de tropeço e rocha que faz cair. Um
abençoado domingo a todos!
O Senhor esteja com todos vocês! Amém!
Padre Everaldo Araújo -
Pároco da Paróquia Santa Terezinha
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