Abrimos
hoje (17/03/13) o Evangelho de João em seu oitavo capítulo, onde encontramos
Jesus no templo ensinando o povo que está ao seu redor. Em determinado momento,
os escribas e os fariseus trazem uma mulher que havia sido surpreendida em
flagrante adultério. Esta é colocada no meio de todos para ser condenada;
notemos que não é mais Jesus quem está no meio ensinando, mas uma mulher
pecadora prestes a ser condenada pelos especialistas na Palavra de Deus, embora
este encontro se transforme em verdadeiro ensinamento. O que fazer agora?
Parece que enfim eles conseguiram colocar Jesus numa situação sem saída. Ele
deve condená-la, ou ir de encontro com as prescrições da lei de Moisés?
Para
nos ajudar nesta reflexão, gostaria de partilhar com todos algo que muito me
chamou atenção ao refletir este texto sagrado do evangelho. São dois gestos de
Jesus que se repetem e que passam quase que despercebidos à nossa leitura. Após
o questionamento dos acusadores, “Que dizes tu?”, Jesus inclina-se, agacha-se
ao chão, melhor expressando o original grego (v.6). Com a insistência dos
inquisidores, ele levanta-se, ergue-se, e diz: “ Quem for sem pecado dentre
vós, seja o primeiro a jogar sobre ela uma pedra” (v.7); volta a inclinar-se e
continua a escrever no chão. Por fim, estando sozinho com a mulher, após a
saída de todos os acusadores, Jesus levanta-se novamente (v.10), e pergunta a
ela: “Onde estão eles? Ninguém te condenou?” Depois de dizer a Jesus que não, o
encontro é finalizado com estas palavras: “Eu também não te condeno. Podes ir
e, de agora em diante, não peques mais”. Na verdade, este foi um encontro
transformador na vida desta mulher, encontro este que todos somos convidados a
fazer neste tempo quaresmal.
O
que se dá, de verdade, neste encontro hoje, proclamado pelo evangelista João,
quando celebramos o 5º Domingo da Quaresma? Penso que a partir destes
destaques: inclinar-se e levantar-se, podemos chegar ao verdadeiro sentido do
texto de hoje, para que o mesmo se atualize em nossas vidas, tornando-se
Palavra para a nossa salvação. Antes disso, vale lembrar que por quatro vezes,
bem nos primeiros capítulos deste evangelho, João se refere às festas
religiosas dos judeus como uma realidade da qual Jesus não faz parte, não tem
comunhão com elas; diferentemente do que aconteceu com as Bodas de Caná, onde
Jesus se faz presente e partilha das necessidades dos noivos. Um exemplo disso
acontece no início do capítulo sete quando se diz: “Estava próximo a festa dos
judeus, chamada a Festa das Tendas”. Parece haver uma separação entre a festa
dos judeus e a festa da comunhão com Jesus. Com certeza há uma insatisfação de
Jesus para com estas práticas religiosas.
Seu
encontro com a mulher adúltera se dá no templo, o que explicita o porquê de sua
insatisfação. Este local sagrado deixa de ser um ambiente onde se louva a Deus
pela libertação da vida humana, para se tornar um local de condenação e
julgamento. Enquanto estes levam a mulher para o meio para ser condenada, Jesus
permanece com ela no meio para restabelecer sua dignidade, com o seu
amor-perdão. Essa atitude dos religiosos da época, e de todos os tempos, se
contrapõe a muitas atitudes de Jesus que várias vezes na sinagoga, outro local
sagrado, chamará para o meio tantos excluídos e abandonados pelo sistema
econômico, social, político e religioso. Eis a missão de todos os seguidores de
Jesus em todos os tempos, “trazer para o meio”. O mestre não compactua com esta
atitude condenatória e por isso o Evangelho várias vezes vai lembrar, “a festa
dos judeus”, que não é a festa de Jesus. Ele mostra no templo que seu ensino
consiste em inclinar-se diante das misérias humanas, para depois levantar os
que estavam caídos; sua ação, de modo algum, leva a uma justificativa do
pecado, como se ele estivesse neste encontro incentivando as pessoas a viverem
uma vida sem Deus. Ele foi capaz de desdobrar-se sobre esta mulher, para depois
dizer a ela, eu não te condeno, de agora em diante vais e não peques mais. É
bem verdade que muitos que estão ao chão, oprimidos pelo peso de seus pecados
estejam precisando de alguém que se incline diante suas misérias, para depois
os conduzir à experiência do erguimento, ressurreição a uma vida nova.
Hoje,
Jesus quer nos fazer entender que a condenação não é o melhor modo de se salvar
uma vida, o inclinar-se é mais salutar e eficiente. Não compactua com práticas
religiosas mais preocupadas em apontar os erros, onde o outro é colocado no
centro para ser julgado. E faz comunhão com nossa festa, quando esta nos leva a
uma prática de rebaixamento que conduz o outro à libertação. Deixar o outro
partir livremente sem o peso de seus pecados.
Padre
Everaldo Araújo - Pároco
Paróquia
Santa Terezinha
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirEu li várias vezes esta leitura do Evangelho, e entendi, escutei vc explicar durante a missa, fiquei maravilhada com a sua proclamação, este nosso Padre Everaldo é maravilhoso em sua explicação, Obrigada Padre, por ter vc conosco...Leonildes
ResponderExcluir