quarta-feira, 20 de março de 2013

"PERDÃO QUE TRAZ PARA O MEIO E LEVANTA PARA A VIDA" - MENSAGEM DO PÁROCO

Abrimos hoje (17/03/13) o Evangelho de João em seu oitavo capítulo, onde encontramos Jesus no templo ensinando o povo que está ao seu redor. Em determinado momento, os escribas e os fariseus trazem uma mulher que havia sido surpreendida em flagrante adultério. Esta é colocada no meio de todos para ser condenada; notemos que não é mais Jesus quem está no meio ensinando, mas uma mulher pecadora prestes a ser condenada pelos especialistas na Palavra de Deus, embora este encontro se transforme em verdadeiro ensinamento. O que fazer agora? Parece que enfim eles conseguiram colocar Jesus numa situação sem saída. Ele deve condená-la, ou ir de encontro com as prescrições da lei de Moisés?

Para nos ajudar nesta reflexão, gostaria de partilhar com todos algo que muito me chamou atenção ao refletir este texto sagrado do evangelho. São dois gestos de Jesus que se repetem e que passam quase que despercebidos à nossa leitura. Após o questionamento dos acusadores, “Que dizes tu?”, Jesus inclina-se, agacha-se ao chão, melhor expressando o original grego (v.6). Com a insistência dos inquisidores, ele levanta-se, ergue-se, e diz: “ Quem for sem pecado dentre vós, seja o primeiro a jogar sobre ela uma pedra” (v.7); volta a inclinar-se e continua a escrever no chão. Por fim, estando sozinho com a mulher, após a saída de todos os acusadores, Jesus levanta-se novamente (v.10), e pergunta a ela: “Onde estão eles? Ninguém te condenou?” Depois de dizer a Jesus que não, o encontro é finalizado com estas palavras: “Eu também não te condeno. Podes ir e, de agora em diante, não peques mais”. Na verdade, este foi um encontro transformador na vida desta mulher, encontro este que todos somos convidados a fazer neste tempo quaresmal.
O que se dá, de verdade, neste encontro hoje, proclamado pelo evangelista João, quando celebramos o 5º Domingo da Quaresma? Penso que a partir destes destaques: inclinar-se e levantar-se, podemos chegar ao verdadeiro sentido do texto de hoje, para que o mesmo se atualize em nossas vidas, tornando-se Palavra para a nossa salvação. Antes disso, vale lembrar que por quatro vezes, bem nos primeiros capítulos deste evangelho, João se refere às festas religiosas dos judeus como uma realidade da qual Jesus não faz parte, não tem comunhão com elas; diferentemente do que aconteceu com as Bodas de Caná, onde Jesus se faz presente e partilha das necessidades dos noivos. Um exemplo disso acontece no início do capítulo sete quando se diz: “Estava próximo a festa dos judeus, chamada a Festa das Tendas”. Parece haver uma separação entre a festa dos judeus e a festa da comunhão com Jesus. Com certeza há uma insatisfação de Jesus para com estas práticas religiosas.
Seu encontro com a mulher adúltera se dá no templo, o que explicita o porquê de sua insatisfação. Este local sagrado deixa de ser um ambiente onde se louva a Deus pela libertação da vida humana, para se tornar um local de condenação e julgamento. Enquanto estes levam a mulher para o meio para ser condenada, Jesus permanece com ela no meio para restabelecer sua dignidade, com o seu amor-perdão. Essa atitude dos religiosos da época, e de todos os tempos, se contrapõe a muitas atitudes de Jesus que várias vezes na sinagoga, outro local sagrado, chamará para o meio tantos excluídos e abandonados pelo sistema econômico, social, político e religioso. Eis a missão de todos os seguidores de Jesus em todos os tempos, “trazer para o meio”. O mestre não compactua com esta atitude condenatória e por isso o Evangelho várias vezes vai lembrar, “a festa dos judeus”, que não é a festa de Jesus. Ele mostra no templo que seu ensino consiste em inclinar-se diante das misérias humanas, para depois levantar os que estavam caídos; sua ação, de modo algum, leva a uma justificativa do pecado, como se ele estivesse neste encontro incentivando as pessoas a viverem uma vida sem Deus. Ele foi capaz de desdobrar-se sobre esta mulher, para depois dizer a ela, eu não te condeno, de agora em diante vais e não peques mais. É bem verdade que muitos que estão ao chão, oprimidos pelo peso de seus pecados estejam precisando de alguém que se incline diante suas misérias, para depois os conduzir à experiência do erguimento, ressurreição a uma vida nova.

Hoje, Jesus quer nos fazer entender que a condenação não é o melhor modo de se salvar uma vida, o inclinar-se é mais salutar e eficiente. Não compactua com práticas religiosas mais preocupadas em apontar os erros, onde o outro é colocado no centro para ser julgado. E faz comunhão com nossa festa, quando esta nos leva a uma prática de rebaixamento que conduz o outro à libertação. Deixar o outro partir livremente sem o peso de seus pecados.

Padre Everaldo Araújo - Pároco
Paróquia Santa Terezinha

2 comentários:

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  2. Eu li várias vezes esta leitura do Evangelho, e entendi, escutei vc explicar durante a missa, fiquei maravilhada com a sua proclamação, este nosso Padre Everaldo é maravilhoso em sua explicação, Obrigada Padre, por ter vc conosco...Leonildes

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