O
que a Igreja crê e celebra neste mistério? A Escritura Santa nos ensina que a
humanidade fora criada por Deus para a comunhão com Ele, para ser feliz
convivendo com Ele, construindo a vida e o mundo. Mas, infelizmente, desde o
início da história humana e até hoje, nossa raça foi dizendo “não” ao sonho de
Deus. Quisemos e queremos ainda ser como deuses, conhecedores do bem e do mal
(cf. Gn 3,4s); queremos viver a vida de modo autônomo, como se a existência
fosse nossa e não um dom recebido do Senhor. Se não dizemos, pensamos muitas
vezes: "A vida é minha; faço dela o que eu quero! O resultado dessa atitude
tem sido trágico: tornamo-nos uma humanidade ferida, esfacelada num mundo
também ferido e esfacelado.
Somos
todos presa de um enorme fechamento para Deus, uma desconfiança n'Ele, uma
tendência a não percebê-Lo. Por isso somos profundamente desequilibrados no
nosso modo de nos ver, de ver a vida, de nos relacionar com os outros e com o
mundo. Somos um poço de contradições, de paixões, de anseios desencontrados e
sentimentos, muitas vezes, destrutivos. Somos, pois, profundamente feridos de
morte, feridos até a morte! É esta situação miserável que a Igreja denomina
“pecado original”, pecado que já nos marca desde o primeiro momento de nossa
existência: “Minha mãe já concebeu-me pecador” (Sl 50,7). É desta situação
miserável, sem saída, que Cristo nos arranca com a Sua encarnação, Sua vida,
Sua morte e ressurreição com o dom do Seu Espírito: “Todos pecaram e estão
privados da glória de Deus, e são justificados gratuitamente em virtude da
redenção realizada por Jesus Cristo” (Rm 3,23s).
Desde
o ventre materno, desde o primeiro instante de sua concepção, o Senhor a
libertou graças aos méritos de Cristo. Ela, a Virgem, pode ser chamada Toda Santa,
isto é, Toda Santificada. Ela pode cantar as palavras da profecia de Isaías: “Com
grande alegria rejubilo-me no Senhor, e minha alma exultará no meu Deus, pois
me vestiu de justiça e salvação, como a noiva ornada de suas jóias!”
A Igreja crê nesta Concepção Imaculada da Mãe de Jesus e com ela se alegra. E crê fundamentada na Escritura Sagrada. A Palavra de Deus não afirma que o Senhor colocou uma inimizade de morte entre a serpente e a Mulher, entre a descendência da serpente e da Mulher? Quem é esta Mulher? Não é aquela a quem Jesus chama Mulher em Caná e ao pé da cruz? Não é aquela de quem São Paulo diz: “Quando chegou a plenitude dos tempos, enviou Deus o Seu Filho nascido de Mulher? Como, pois, poderia estar sob o domínio do pecado, fruto da serpente, a Mulher de quem nasceria o Cordeiro sem mancha, que tira o pecado do mundo?
A Igreja crê nesta Concepção Imaculada da Mãe de Jesus e com ela se alegra. E crê fundamentada na Escritura Sagrada. A Palavra de Deus não afirma que o Senhor colocou uma inimizade de morte entre a serpente e a Mulher, entre a descendência da serpente e da Mulher? Quem é esta Mulher? Não é aquela a quem Jesus chama Mulher em Caná e ao pé da cruz? Não é aquela de quem São Paulo diz: “Quando chegou a plenitude dos tempos, enviou Deus o Seu Filho nascido de Mulher? Como, pois, poderia estar sob o domínio do pecado, fruto da serpente, a Mulher de quem nasceria o Cordeiro sem mancha, que tira o pecado do mundo?
Estejamos
atentos ainda no modo como Gabriel saudou a Virgem no Evangelho: ele lhe muda o
nome! Não diz "Alegra-te, Maria!”, mas “Alegra-te, Cheia de Graça!”. Cheia
de graça, kecharitomene, do verbo charitô, agraciar. "Alegra-te, ó Toda
Cumulada Pela Graça!", "Alegra-te, ó Mar de Graça, ó possuída
totalmente pela graça! Em ti, Virgem Maria, não há o mínimo lugar, a mínima
brecha para a “des-graça” do pecado!" – É isto que significam as palavras
de Gabriel. Podem crer: Deus juntou toda água um dia e chamou de mar; Deus
juntou toda graça, outro dia, e a chamou de Maria!
A Virgem não é dona da graça;
ela a recebeu totalmente. A Virgem não é imaculada por seus próprios méritos,
mas pelos méritos daquele que, nascido de suas entranhas benditas, venceu a
antiga serpente e destruiu o antigo inimigo. Observemos que esta ideia aparece
na segunda leitura da Missa desta solenidade. O que diz o apóstolo? O Pai “nos
escolheu em Cristo, antes da fundação do mundo, para que sejamos santos e
irrepreensíveis sob o seu olhar, no amor. Ele nos predestinou por intermédio de
Jesus Cristo (Ef 1,4s).
Se
todos somos fruto de um sonho eterno de Deus, se todos somos predestinados em
Cristo, desde antes da fundação do mundo; se o Senhor conheceu nossos dias
antes mesmo que um só deles existisse, pois bem: em Cristo, Deus, o Pai,
preservou a Mãe do Seu Filho do pecado, graças ao Seu Filho!
Que
nossos irmãos protestantes se alegrem conosco pela Imaculada Conceição de
Maria: ela é bíblica, ela exalta enormemente a grandeza abundante da
graça de Cristo, único Salvador! São Paulo diz que “todos pecaram e estão
privados da glória de Deus”; assim estaria a Virgem sem a graça de Cristo; mas
disso foi libertada no primeiro momento de sua existência, graças a Cristo!
Esta é a beleza desta festa: o triunfo da graça, celebrar a graça de Cristo que age antes mesmo do nascimento histórico de Cristo! Que graça tão grande, que Salvador tão potente, que Deus tão previdente! E para nós, que alegria contemplar o mistério, vislumbrá-lo, mergulhar nele! Hoje, a Virgem foi concebida livre do pecado; hoje, começou a raiar a aurora do dia sem fim; surgiu a puríssima Estrela d’Alva que anuncia o Sol, que é o Cristo, nosso Deus!
Esta é a beleza desta festa: o triunfo da graça, celebrar a graça de Cristo que age antes mesmo do nascimento histórico de Cristo! Que graça tão grande, que Salvador tão potente, que Deus tão previdente! E para nós, que alegria contemplar o mistério, vislumbrá-lo, mergulhar nele! Hoje, a Virgem foi concebida livre do pecado; hoje, começou a raiar a aurora do dia sem fim; surgiu a puríssima Estrela d’Alva que anuncia o Sol, que é o Cristo, nosso Deus!
A
Igreja, exultante de alegria, tem palavras lindas na celebração litúrgica no
dia da Imaculada. No Ofício Divino, ela assim se dirige à Virgem Toda Santa:
“Com a vossa Imaculada Conceição, Virgem Maria, um anúncio de alegria percorreu
o mundo inteiro” e, mais adiante, no Ofício, continua, admirada: “Toda bela
sois, Virgem Maria, sem mancha original! Sois a glória de Sião, a alegria de
Israel e a flor da humanidade”. E, imaginando a resposta da Virgem, coloca nos
seus lábios estas palavras que ela dirige ao Senhor: “Foi nisto que eu vi,
porque vós me escolhestes! Porque não triunfou sobre mim o inimigo, porque vós
me escolhestes!” Isso mesmo: mais que ninguém, a Virgem é devedora a Cristo: Ele
a escolheu, a preservou, sustentou-a e teve por ela uma predileção inigualável!
Alegremo-nos
nós também! Em Cristo o pecado pode ser vencido! A Conceição Imaculada de Maria
é sinal belíssimo desta vitória! Alegremo-nos, porque a Imaculada Conceição de Nossa
Senhora é o feliz princípio e o primeiro albor da salvação que o Senhor Jesus
nos traz! Bendita seja a cruz de Jesus, que antes de ser fincada no Calvário,
já libertou com seus raios a Virgem de todo pecado! A Jesus, fruto bendito, do
bendito ventre da bendita Virgem Maria, a glória pelos séculos dos séculos.
Amém.
Dom
Henrique Soares da Costa
http://www.domhenrique.com.br
http://www.domhenrique.com.br
Dom
Henrique Soares da Costa, Bispo Auxiliar de Aracaju, Mestre em Teologia pela
Pontifícia Universidade Gregoriana. Amplo conhecimento na área de Teologia
Dogmática, vasta experiência no magistério em diversos cursos, retiros e
seminários.
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